sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Inúteis estendidos na soleira do presente: viva nós!

"Como éramos inúteis! E como éramos orgulhosos de sermos tão inúteis! Poderíamos disputar entre nós dois a glória de ser o mais inútil. Não queríamos significar nada, representar nada, pretender nada, queríamos ser sem futuro, nada mais do que sermos inúteis estendidos na soleira do presente - e efetivamente éramos assim, viva nós! (Nietzsche em Sobre o futuro de nossas Instituições de Formação).

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A Voz do Demônio

Todas as Bíblias ou códigos sagrados têm sido a causa dos seguintes erros:

1. Que o Homem possui dois princípios reais de existência:
um Corpo & uma Alma.

2. Que a energia, denominada Mal, provém unicamente do Corpo.
E a razão, denominada Bem, deriva tão somente da Alma.

3. Que Deus atormentará o Homem pela Eternidade por
haver imantado suas Energias.

Mas, por outro lado, são verdadeiros os seguintes Contrários:

1. O Homem não tem um Corpo distinto da Alma, pois aquilo
que denominamos Corpo não passa de uma
parte de Alma discernida pelos cinco sentidos, seus
princípios umbrais nestes tempos.

2. Energia é a única força vital e emana do Corpo.
A Razão é a fronteira ou o perímetro circular da Energia.

3. Energia é Eterna Delícia.

(A Voz do Demônio, de William Blake).

Algo coquete

“Às tardinhas, porém, isto é, no caramanchão, seu rosto passou a exprimir de modo um tanto involuntário algo caprichoso e engraçado, algo coquete e ao mesmo tempo presunçoso. Isso acontece no indivíduo meio por acaso, involuntariamente, e é tanto mais visível quanto mais nobre é o homem” (Fiódor Dostoiévski em Os demônios).

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Tratado sobre Solidão, Agonia, Obsessão e Salmoura

A solidão é produtiva quando planejada;
porém,
quando improvisada
pode ser sinal de fraqueza.

A agonia é positiva,
mas ao insistir em perpetuar-se,
torna-se doença
de cor amarela.

– Há toda uma arte da agonia (ela potencializa a criação), a qual consiste em saber sentir prazer ao agonizar. Entretanto, a agonia apenas tem sentido se for precedida e postulada por uma pequena estabilidade. Quero dizer que não tem sentido algum alguém agonizar perpetuamente.


– A solidão causaria agonia?
– Sim, a sociabilidade é uma tentativa coletiva de não agonizar. Entretanto, temos dois tipos de agonia: 1) agonizar, como conseqüência do jogo agonístico (é aquela da luta eterna entre a cultura e a civilização, Nietzsche); 2) insistir em não agonizar (aquela de cor amarela). Exemplo: amo o calor, mas isso não quer dizer que quero que ele se perpetue (se eu assim quisesse, o caso diria respeito ao segundo tipo). Ao contrário, quero vê-lo esgotar-se, acompanhar a sua intensificação, até que se torne insuportável, diluindo-se em chuva (jogo agonístico).

A obsessão pode ser sinal de seriedade, controle e sobriedade;
mas também pode ser sinal de insegurança.


– Dois tipos de salmoura: o de Flaubert e o da missa. Este é o tipo humilde, o qual nos mantém em segurança justamente porque nada acontece: todos permanecem sendo aqueles que já eram: o aborrecimento surgindo como decorrência da monotonia. O outro tipo, o de Flaubert, é a salmoura indispensável para recomeçar qualquer projeto. Trata-se da desilusão que acontece sempre que uma coisa se realiza: o aborrecimento surgindo como decorrência de uma sensação de insatisfação por algo ter terminado. Sobre isso, Witold diz: "Porque a realização é sempre duvidosa, insuficientemente precisa, privada da grandeza e da pureza do projeto". Evidente, pois o fim do projeto não é redenção, pelo contrário, é salmoura.
Marinade é a palavra que Flaubert pronunciava quando aborrecido chegava ao seu apartamento. Jogava-se no sofá e dizia: "marinade" (que significa: salmoura), e ali permanecia curtindo o seu próprio aborrecimento. Passada essa fase, voltava a produzir.
[Fragmento de minha Tese de Doutorado: "Procedimento Erótico..."]

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A lógica da Forma (V)

A Criança será devorada por Titãs:
mas esse é o seu destino!

A lógica da Forma (IV)

Que loucas gargalhadas.
Zaratustra não te movas!
Queres um seguidor? Então, siga aquela perninha!
- Se foi! Se foi! Quiçá num balé...

(Luciane Olendzki em Palhaçar: jogo de máscaras por uma patética-poética por rir, p. 20).

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A lógica da Forma (III)


“carta de flaubert a louise colet
nunca olhei para uma criança sem pensar que iria crescer
nem olhei para um berço sem pensar em um túmulo
a visão de uma mulher nua me faz imaginar um esqueleto”

“passeio de Baudelaire
com amada em manhã radiante diante duma carniça
ó deusa da beleza ó sol da minha vida
hás de ser como essa coisa apodrecida essa medonha corrupção
as três graças de Rubens
ceifadeira espreita e espera à esquerda”

(Sandra Mara Corazza em MANIFESTO (della scrilettura cannibale), p. 22, 23. A imagem é de Goya).

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Procedimento Vampiresco

O vampiro "cultivará e prolongará seu prazer criminoso com o refinamento de um epicurista, entregando-se a uma conquista assídua para seduzir pouco a pouco o objeto de seu desejo. Aspira, então, a receber, da parte deste, um sentimento de simpatia e de consentimento, enquanto nos casos ordinários, vai direto ao objetivo, violentando sem rodeios as suas vítimas e muitas vezes estrangulando-as ao fartar-se delas” (Sheridan le Fann em Carmilla ou Morrer de Prazer).

Não prometa ser um deus

“É só nos momentos em que você me faz sofrer é que fico fora do perigo. Não devia ter aceitado ser um deus para mim, se os deveres dos deuses lhe dão medo, e todos sabem que não são tão suaves. Você já me viu chorar. Ainda falta sentir prazer em minhas lágrimas” (Pauline Réage em A história de O).

Mais violência

“Hoje, tristemente, são postos a apodrecer nos porões os mesmos homens que outros séculos decapitavam altivamente em praça pública. Só infligimos torturas anônimas e imerecidas [...] Tudo se passa como se existisse no mundo um certo equilíbrio harmonioso da violência, do qual perdemos o gosto e até mesmo o sentido" (Prefácio [de A história de O, de Pauline Réage] assinado por Jean Paulhan).

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Play-Off

Permanecer e acomodar-se X Sair fora => vencedor => Sair fora.
Sair fora e se fechar em casa, numa punhetagem intelectual X Sair fora permanecendo no campo de batalha => vencedor => Sair fora permanecendo no campo de batalha.
[a idéia do quão patético é o se fechar em casa e ficar numa "punhetagem intelectual" é do Luiz Daniel (MSN, tarde de 16 de setembro de 2008)].

21 de maio de 2008 / Faculdade de Educação

veranico de maio / sem sol / muito abafado / calça jeans / chove logo? / gripe / dor de garganta / nariz trancado / secreção seca / aula vaga / ventiladores ligados

10 de setembro de 2008 / C. T. Filho

chuva de verão no inverno / os edifícios / algumas luzes acessas

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Momento de Verdade (III)

Ferocidade (na foto: Beethoven)

Orelhas de aristocrata (na foto: o jovem Nietzsche).

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O Momento de Verdade do iluminismo

Conclusão: quem inventou o iluminismo deve ter sido acudido por um precioso Momento de Verdade. O problema: ele esqueceu (ou foram os seus seguidores? [Nada contra Marx, o problema são os marxistas. Nada contra Freud, o problema são os freudianos. Nada contra...]) que o verdadeiro Momento de Verdade se exaure no instante posterior ao que lhe deu “existência”. O problema maior: quiseram tomar aquele Momento de Verdade como sendo um ponto: pontualizaram-no. O problema mais grave: e não apenas pontualizaram o Momento de Verdade, como também vieram a perpetuar isso que foi pontualizado. Portanto: nada contra a Verdade, é que eu prefiro o Momento. Não que eu prefira o Momento, é que eu gosto da sua Verdade. Nada é mais verdadeiro (irrefutável) do que a Verdade do Momento. Óbvio! É que só o Momento pode julgá-la.
[Fragmento de um texto ("O Irrefutável Momento de Verdade") que fiz para um Seminário]

Da impossibilidade de o gesto condizer com o que a consciência planeja

Duas pessoas que, embora estejam reciprocamente apaixonadas, uma desconhece os sentimentos da outra. É então que a apaixonada A passa o copo para B, mas não sem ficar nervosa, pois teve a impressão de que, em meio ao gesto, escancarou todo o seu sentimento. De fato A escancarou, mas fez isso não quando imaginou ter feito, mas sim no segundo movimento, o da impressão. No instante em que o copo foi passado, é provável que as mãos de A e B tenham demorado frações de segundos a mais do que seria normal, e essa mudança de ritmo tenha sido fatal.
[Fragmento de minha Tese de Doutorado: "Procedimento Erótico..."]

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Horário

"Durante as férias, levanto-me às sete horas, desço, abro a casa, faço chá, pico o pão para os passarinhos que esperam no jardim, lavo-me, espano minha mesa de trabalho, esvazio seus cinzeiros, corto uma rosa, ouço o noticiário das sete e meia. Às oito horas, minha mãe desce por suas vez; como com ela dois ovos quentes, uma rodela de pão torrado e tomo café preto sem açúcar; às oito e um quarto, vou buscar o jornal Sud-Ouest na cidade; digo à Senhora C.: o tempo está bom, o tempo está feio, etc.; e depois começo a trabalhar. Às nove e meia, passa o carteiro (o ar está carregado hoje, que lindo dia, etc.), e, um pouco mais tarde, em sua caminhonete cheia de pães, a filha da padeira (ela é estudada, não convém falar do tempo); às dez e meia em ponto, faço café preto e fumo meu charuto do dia. À uma hora, almoçamos; faço a sesta da uma e meia às duas e meia. Vem então o momento em que flutuo: nenhuma vontade de trabalhar; às vezes, faço um pouco de pintura, ou vou buscar aspirina na farmácia, ou queimo papéis no fundo do jardim, ou fabrico uma carteira, um escaninho, uma caixa para fichas; chegam assim quatro horas e novamente trabalho; às cinco e um quarto, é o chá; por volta das sete horas, para de trabalhar; rego o jardim (se o tempo está bom) e toco piano. Depois do jantar, televisão: se aquela noite está boba demais, volto à minha mesa, ouço música e faço fichas. Deito-me às dez horas e leio, um após outro, um pouco de dois livros: por um lado uma obra de língua bem literária (as Confissões de Lamartine, o Diário dos Goncourt, etc.), por outro lado um romance policial (de preferência antigo), ou um romance inglês (fora de moda), ou Zola. - Tudo isso não tem nenhum interesse. Ainda mais: não só você se marca como pertencente a uma classe, mas ainda você faz dessa marca uma confidência literária, cuja futilidade não tem mais aceitação: você se constitui fantasmaticamente como 'escritor', ou ainda pior: você se constitui" (Roland Barthes em Roland Barthes por Roland Barthes).

A mulher que ele fez Soberana (Obra)


Momomento de Verdade (II)

Louis XV... (Na foto: Luís XV).

O Marquês ficava ainda mais delicado quando de perfil (na foto: Marquês de Sade).

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A intercessora de Modigliani


Os seus olhos dispensam o primeiro plano, como se eles se satisfizessem com o fundo. Suas orelhas são incrivelmente pequenas e discretas. O rosto é estreito e comprido, e somente o nariz o acompanha, visto que os olhos se espicham na direção contrária. O nariz é o seu traço principal, visto que orquestra todos os outros, servindo-lhes, em termos de forma, como ponto de referência. A boca, embora pequena, é tão desenhada quanto uma boca carnuda, porém, em miniatura. O queixo é uma ponta, honrando o propósito do rosto. O pescoço fino e comprido funciona como uma extensão contínua do rosto. Os ombros, desmaiados, testemunham toda a sua fragilidade anatômica. Seus dedos talvez a definam: lânguidos, porém, exatos.
[Fragmento de minha Tese de Doutorado: "Procedimento Erótico..."]

A dimensão do tesão

“A natureza do amor que sinto pelas coisas belas faz com que necessite de emoções sempre diferentes, novas e até mesmo opostas, para poder conservar dentro de mim o mesmo e necessário nível de prazer e de alegria que, com a beleza, formam o meu apaixonado porém instável e mutante tesão com relação a tudo" (Roberto Freire em Sem tesão não há solução).

O Método

“margear, cercar, arrebentar” (Gilles Deleuze e Félix Guattari em Tratado de Nomadologia).

A lógica da Forma (II)

"Por menor que seja a 'unidade', ela é articulada" (Gilles Deleuze e Félix Guattari em Tratado de Nomadologia).

Momomento de Verdade


“Como a maioria das mulheres não são suaves, nem a maioria dos homens são fortes, era um rosto que sugeria, em suas ressonâncias profundas, a verdade sobre a natureza humana” (James Baldwin em Numa terra entranha. Na foto: Roland Barthes).


Ser negro em Nova York era ser honestamente consequente (na foto: James Baldwin).

terça-feira, 4 de março de 2008

A lógica da Forma

"Aquela entidade provisória que só existia para deixar de ser ela própria, para a oportunidade de deixar de ser ela própria, que se matava sozinha" (Witold Gombrowicz em A pornografia).

segunda-feira, 3 de março de 2008

o prazer leitura sem fim

uma página uma função. uma função um prazer. vamos vamos. calma, uma função. vamos. uma página uma função. uma função um prazer. vamos vamos. calma, uma função. vamos. uma página uma função. uma função um prazer. vamos vamos. calma, uma função. vamos. uma página uma função. uma função um prazer. vamos vamos. calma, uma função. vamos. uma página uma função. uma função um prazer. vamos vamos. calma, uma função. vamos