segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A lógica da Forma (III)


“carta de flaubert a louise colet
nunca olhei para uma criança sem pensar que iria crescer
nem olhei para um berço sem pensar em um túmulo
a visão de uma mulher nua me faz imaginar um esqueleto”

“passeio de Baudelaire
com amada em manhã radiante diante duma carniça
ó deusa da beleza ó sol da minha vida
hás de ser como essa coisa apodrecida essa medonha corrupção
as três graças de Rubens
ceifadeira espreita e espera à esquerda”

(Sandra Mara Corazza em MANIFESTO (della scrilettura cannibale), p. 22, 23. A imagem é de Goya).

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Procedimento Vampiresco

O vampiro "cultivará e prolongará seu prazer criminoso com o refinamento de um epicurista, entregando-se a uma conquista assídua para seduzir pouco a pouco o objeto de seu desejo. Aspira, então, a receber, da parte deste, um sentimento de simpatia e de consentimento, enquanto nos casos ordinários, vai direto ao objetivo, violentando sem rodeios as suas vítimas e muitas vezes estrangulando-as ao fartar-se delas” (Sheridan le Fann em Carmilla ou Morrer de Prazer).

Não prometa ser um deus

“É só nos momentos em que você me faz sofrer é que fico fora do perigo. Não devia ter aceitado ser um deus para mim, se os deveres dos deuses lhe dão medo, e todos sabem que não são tão suaves. Você já me viu chorar. Ainda falta sentir prazer em minhas lágrimas” (Pauline Réage em A história de O).

Mais violência

“Hoje, tristemente, são postos a apodrecer nos porões os mesmos homens que outros séculos decapitavam altivamente em praça pública. Só infligimos torturas anônimas e imerecidas [...] Tudo se passa como se existisse no mundo um certo equilíbrio harmonioso da violência, do qual perdemos o gosto e até mesmo o sentido" (Prefácio [de A história de O, de Pauline Réage] assinado por Jean Paulhan).

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Play-Off

Permanecer e acomodar-se X Sair fora => vencedor => Sair fora.
Sair fora e se fechar em casa, numa punhetagem intelectual X Sair fora permanecendo no campo de batalha => vencedor => Sair fora permanecendo no campo de batalha.
[a idéia do quão patético é o se fechar em casa e ficar numa "punhetagem intelectual" é do Luiz Daniel (MSN, tarde de 16 de setembro de 2008)].

21 de maio de 2008 / Faculdade de Educação

veranico de maio / sem sol / muito abafado / calça jeans / chove logo? / gripe / dor de garganta / nariz trancado / secreção seca / aula vaga / ventiladores ligados

10 de setembro de 2008 / C. T. Filho

chuva de verão no inverno / os edifícios / algumas luzes acessas

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Momento de Verdade (III)

Ferocidade (na foto: Beethoven)

Orelhas de aristocrata (na foto: o jovem Nietzsche).

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O Momento de Verdade do iluminismo

Conclusão: quem inventou o iluminismo deve ter sido acudido por um precioso Momento de Verdade. O problema: ele esqueceu (ou foram os seus seguidores? [Nada contra Marx, o problema são os marxistas. Nada contra Freud, o problema são os freudianos. Nada contra...]) que o verdadeiro Momento de Verdade se exaure no instante posterior ao que lhe deu “existência”. O problema maior: quiseram tomar aquele Momento de Verdade como sendo um ponto: pontualizaram-no. O problema mais grave: e não apenas pontualizaram o Momento de Verdade, como também vieram a perpetuar isso que foi pontualizado. Portanto: nada contra a Verdade, é que eu prefiro o Momento. Não que eu prefira o Momento, é que eu gosto da sua Verdade. Nada é mais verdadeiro (irrefutável) do que a Verdade do Momento. Óbvio! É que só o Momento pode julgá-la.
[Fragmento de um texto ("O Irrefutável Momento de Verdade") que fiz para um Seminário]

Da impossibilidade de o gesto condizer com o que a consciência planeja

Duas pessoas que, embora estejam reciprocamente apaixonadas, uma desconhece os sentimentos da outra. É então que a apaixonada A passa o copo para B, mas não sem ficar nervosa, pois teve a impressão de que, em meio ao gesto, escancarou todo o seu sentimento. De fato A escancarou, mas fez isso não quando imaginou ter feito, mas sim no segundo movimento, o da impressão. No instante em que o copo foi passado, é provável que as mãos de A e B tenham demorado frações de segundos a mais do que seria normal, e essa mudança de ritmo tenha sido fatal.
[Fragmento de minha Tese de Doutorado: "Procedimento Erótico..."]

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Horário

"Durante as férias, levanto-me às sete horas, desço, abro a casa, faço chá, pico o pão para os passarinhos que esperam no jardim, lavo-me, espano minha mesa de trabalho, esvazio seus cinzeiros, corto uma rosa, ouço o noticiário das sete e meia. Às oito horas, minha mãe desce por suas vez; como com ela dois ovos quentes, uma rodela de pão torrado e tomo café preto sem açúcar; às oito e um quarto, vou buscar o jornal Sud-Ouest na cidade; digo à Senhora C.: o tempo está bom, o tempo está feio, etc.; e depois começo a trabalhar. Às nove e meia, passa o carteiro (o ar está carregado hoje, que lindo dia, etc.), e, um pouco mais tarde, em sua caminhonete cheia de pães, a filha da padeira (ela é estudada, não convém falar do tempo); às dez e meia em ponto, faço café preto e fumo meu charuto do dia. À uma hora, almoçamos; faço a sesta da uma e meia às duas e meia. Vem então o momento em que flutuo: nenhuma vontade de trabalhar; às vezes, faço um pouco de pintura, ou vou buscar aspirina na farmácia, ou queimo papéis no fundo do jardim, ou fabrico uma carteira, um escaninho, uma caixa para fichas; chegam assim quatro horas e novamente trabalho; às cinco e um quarto, é o chá; por volta das sete horas, para de trabalhar; rego o jardim (se o tempo está bom) e toco piano. Depois do jantar, televisão: se aquela noite está boba demais, volto à minha mesa, ouço música e faço fichas. Deito-me às dez horas e leio, um após outro, um pouco de dois livros: por um lado uma obra de língua bem literária (as Confissões de Lamartine, o Diário dos Goncourt, etc.), por outro lado um romance policial (de preferência antigo), ou um romance inglês (fora de moda), ou Zola. - Tudo isso não tem nenhum interesse. Ainda mais: não só você se marca como pertencente a uma classe, mas ainda você faz dessa marca uma confidência literária, cuja futilidade não tem mais aceitação: você se constitui fantasmaticamente como 'escritor', ou ainda pior: você se constitui" (Roland Barthes em Roland Barthes por Roland Barthes).

A mulher que ele fez Soberana (Obra)


Momomento de Verdade (II)

Louis XV... (Na foto: Luís XV).

O Marquês ficava ainda mais delicado quando de perfil (na foto: Marquês de Sade).

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A intercessora de Modigliani


Os seus olhos dispensam o primeiro plano, como se eles se satisfizessem com o fundo. Suas orelhas são incrivelmente pequenas e discretas. O rosto é estreito e comprido, e somente o nariz o acompanha, visto que os olhos se espicham na direção contrária. O nariz é o seu traço principal, visto que orquestra todos os outros, servindo-lhes, em termos de forma, como ponto de referência. A boca, embora pequena, é tão desenhada quanto uma boca carnuda, porém, em miniatura. O queixo é uma ponta, honrando o propósito do rosto. O pescoço fino e comprido funciona como uma extensão contínua do rosto. Os ombros, desmaiados, testemunham toda a sua fragilidade anatômica. Seus dedos talvez a definam: lânguidos, porém, exatos.
[Fragmento de minha Tese de Doutorado: "Procedimento Erótico..."]

A dimensão do tesão

“A natureza do amor que sinto pelas coisas belas faz com que necessite de emoções sempre diferentes, novas e até mesmo opostas, para poder conservar dentro de mim o mesmo e necessário nível de prazer e de alegria que, com a beleza, formam o meu apaixonado porém instável e mutante tesão com relação a tudo" (Roberto Freire em Sem tesão não há solução).

O Método

“margear, cercar, arrebentar” (Gilles Deleuze e Félix Guattari em Tratado de Nomadologia).

A lógica da Forma (II)

"Por menor que seja a 'unidade', ela é articulada" (Gilles Deleuze e Félix Guattari em Tratado de Nomadologia).

Momomento de Verdade


“Como a maioria das mulheres não são suaves, nem a maioria dos homens são fortes, era um rosto que sugeria, em suas ressonâncias profundas, a verdade sobre a natureza humana” (James Baldwin em Numa terra entranha. Na foto: Roland Barthes).


Ser negro em Nova York era ser honestamente consequente (na foto: James Baldwin).