segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A Voz do Demônio

Todas as Bíblias ou códigos sagrados têm sido a causa dos seguintes erros:

1. Que o Homem possui dois princípios reais de existência:
um Corpo & uma Alma.

2. Que a energia, denominada Mal, provém unicamente do Corpo.
E a razão, denominada Bem, deriva tão somente da Alma.

3. Que Deus atormentará o Homem pela Eternidade por
haver imantado suas Energias.

Mas, por outro lado, são verdadeiros os seguintes Contrários:

1. O Homem não tem um Corpo distinto da Alma, pois aquilo
que denominamos Corpo não passa de uma
parte de Alma discernida pelos cinco sentidos, seus
princípios umbrais nestes tempos.

2. Energia é a única força vital e emana do Corpo.
A Razão é a fronteira ou o perímetro circular da Energia.

3. Energia é Eterna Delícia.

(A Voz do Demônio, de William Blake).

Algo coquete

“Às tardinhas, porém, isto é, no caramanchão, seu rosto passou a exprimir de modo um tanto involuntário algo caprichoso e engraçado, algo coquete e ao mesmo tempo presunçoso. Isso acontece no indivíduo meio por acaso, involuntariamente, e é tanto mais visível quanto mais nobre é o homem” (Fiódor Dostoiévski em Os demônios).

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Tratado sobre Solidão, Agonia, Obsessão e Salmoura

A solidão é produtiva quando planejada;
porém,
quando improvisada
pode ser sinal de fraqueza.

A agonia é positiva,
mas ao insistir em perpetuar-se,
torna-se doença
de cor amarela.

– Há toda uma arte da agonia (ela potencializa a criação), a qual consiste em saber sentir prazer ao agonizar. Entretanto, a agonia apenas tem sentido se for precedida e postulada por uma pequena estabilidade. Quero dizer que não tem sentido algum alguém agonizar perpetuamente.


– A solidão causaria agonia?
– Sim, a sociabilidade é uma tentativa coletiva de não agonizar. Entretanto, temos dois tipos de agonia: 1) agonizar, como conseqüência do jogo agonístico (é aquela da luta eterna entre a cultura e a civilização, Nietzsche); 2) insistir em não agonizar (aquela de cor amarela). Exemplo: amo o calor, mas isso não quer dizer que quero que ele se perpetue (se eu assim quisesse, o caso diria respeito ao segundo tipo). Ao contrário, quero vê-lo esgotar-se, acompanhar a sua intensificação, até que se torne insuportável, diluindo-se em chuva (jogo agonístico).

A obsessão pode ser sinal de seriedade, controle e sobriedade;
mas também pode ser sinal de insegurança.


– Dois tipos de salmoura: o de Flaubert e o da missa. Este é o tipo humilde, o qual nos mantém em segurança justamente porque nada acontece: todos permanecem sendo aqueles que já eram: o aborrecimento surgindo como decorrência da monotonia. O outro tipo, o de Flaubert, é a salmoura indispensável para recomeçar qualquer projeto. Trata-se da desilusão que acontece sempre que uma coisa se realiza: o aborrecimento surgindo como decorrência de uma sensação de insatisfação por algo ter terminado. Sobre isso, Witold diz: "Porque a realização é sempre duvidosa, insuficientemente precisa, privada da grandeza e da pureza do projeto". Evidente, pois o fim do projeto não é redenção, pelo contrário, é salmoura.
Marinade é a palavra que Flaubert pronunciava quando aborrecido chegava ao seu apartamento. Jogava-se no sofá e dizia: "marinade" (que significa: salmoura), e ali permanecia curtindo o seu próprio aborrecimento. Passada essa fase, voltava a produzir.
[Fragmento de minha Tese de Doutorado: "Procedimento Erótico..."]

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A lógica da Forma (V)

A Criança será devorada por Titãs:
mas esse é o seu destino!

A lógica da Forma (IV)

Que loucas gargalhadas.
Zaratustra não te movas!
Queres um seguidor? Então, siga aquela perninha!
- Se foi! Se foi! Quiçá num balé...

(Luciane Olendzki em Palhaçar: jogo de máscaras por uma patética-poética por rir, p. 20).