"Durante as férias, levanto-me às sete horas, desço, abro a casa, faço chá, pico o pão para os passarinhos que esperam no jardim, lavo-me, espano minha mesa de trabalho, esvazio seus cinzeiros, corto uma rosa, ouço o noticiário das sete e meia. Às oito horas, minha mãe desce por suas vez; como com ela dois ovos quentes, uma rodela de pão torrado e tomo café preto sem açúcar; às oito e um quarto, vou buscar o jornal Sud-Ouest na cidade; digo à Senhora C.: o tempo está bom, o tempo está feio, etc.; e depois começo a trabalhar. Às nove e meia, passa o carteiro (o ar está carregado hoje, que lindo dia, etc.), e, um pouco mais tarde, em sua caminhonete cheia de pães, a filha da padeira (ela é estudada, não convém falar do tempo); às dez e meia em ponto, faço café preto e fumo meu charuto do dia. À uma hora, almoçamos; faço a sesta da uma e meia às duas e meia. Vem então o momento em que flutuo: nenhuma vontade de trabalhar; às vezes, faço um pouco de pintura, ou vou buscar aspirina na farmácia, ou queimo papéis no fundo do jardim, ou fabrico uma carteira, um escaninho, uma caixa para fichas; chegam assim quatro horas e novamente trabalho; às cinco e um quarto, é o chá; por volta das sete horas, para de trabalhar; rego o jardim (se o tempo está bom) e toco piano. Depois do jantar, televisão: se aquela noite está boba demais, volto à minha mesa, ouço música e faço fichas. Deito-me às dez horas e leio, um após outro, um pouco de dois livros: por um lado uma obra de língua bem literária (as Confissões de Lamartine, o Diário dos Goncourt, etc.), por outro lado um romance policial (de preferência antigo), ou um romance inglês (fora de moda), ou Zola. - Tudo isso não tem nenhum interesse. Ainda mais: não só você se marca como pertencente a uma classe, mas ainda você faz dessa marca uma confidência literária, cuja futilidade não tem mais aceitação: você se constitui fantasmaticamente como 'escritor', ou ainda pior: você se constitui" (Roland Barthes em Roland Barthes por Roland Barthes).
Professor do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) - http://www.unipampa.edu.br/
Colaborador do Projeto "Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio à vida", do Programa Observatório da Educação CAPES/INEP FACED/UFRGS - http://difobservatorio2010.blogspot.com/
Responsável pelo Projeto de Pesquisa "Produção de signos, a partir da experimentação de fanzines, no ensino em Comunicação Social", cadastrado no SIPPEE da UNIPAMPA (em fase de finalização)
Responsável pelo Projeto de Pesquisa "Experimentações metodológicas no ensino em Comunicação Social", cadastrado no SIPPEE da UNIPAMPA, com financiamento PBDA/UNIPAMPA (em andamento)
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